25 de abril de 2024

Quarentena forçada ou aprendizado?

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A Pandemia mudou a vida de todos nós de alguma forma, desde as formas mais brandas às formas mais graves. Ela nos fez rever conceitos , enfrentar temores e valorizar o simples.

Nesse conto, me senti a vontade para contar um pouco da minha experiência nesse atual momento que passa o nosso Planeta.

Eu, que já vivia uma vida mais introspectiva, pude perceber a insatisfação de muitos com essa parada obrigatória. Uma parada que pode ser muito proveitosa, já que não temos controle sobre ela.
A humanidade está temerosa por não saber que rumo irá tomar e quando a cura chegará. Com isso vem a ansiedade e chegam os medos do futuro.

Compreensíveis são esses sentimentos, mas não podemos deixá-los tomar conta de nós e de todos os nossos dias. Enquanto a cura não chega podemos usar o tempo disponível para olharmos mais para nós mesmos e para exercemos a empatia com o nosso próximo. Busquei trazer nessa minha narrativa um caminho de esperança e fé.

Quarentena forçada ou aprendizado?

Vivo no momento no Rio de Janeiro, Brasil. Estava viajando de férias por Minas Gerais quando comecei a perceber uma maior ênfase dada pela mídia sobre a pandemia se espalhando pelo mundo e chegando no Brasil. Até então, parecia tão distante, tão supostamente impossível chegar por aqui.
Era algo assim lá do outro lado do mundo, que apareceu na China e por lá ficaria isolado até acabar e ninguém mais lembrar.

Não foi o que aconteceu. Ficamos isolados, brasileiros, portugueses, americanos, canadenses, holandeses, australianos, neozelandeses, japoneses, africanos. Enfim, o mundo todo.

Eu já tinha uma vida reservada por opção, passei a tê-la por obrigação. Obrigação de ajudar na preservação da minha vida e na vida do meu semelhante.

Nos primeiros dias, tudo estava mais tranquilo. Procurando ainda entender o que estava acontecendo de verdade, aproveitando para adiantar trabalhos e buscando momentos de maior interiorização.
Conforme o tempo foi passando, a ficha foi caindo. Algo se alastrou pelo mundo e não sabemos bem o que é e nem como lidar.

Tendo uma vizinha muito querida e amorosa, com filhos e netos morando fora, logo lembrei dela e como ficaria com toda essa situação. Como não podemos ter contato físico, abraços ou conversas próximas, pensei em ajudar com compras, conversas pelo interfone e mensagens por whatsapp.

Se eu, que podia sair, já estava ansiosa com o que estava por vir, imaginei como a vizinha idosa e com familiares distantes se sentiria. E assim, conversávamos pela varanda, tomando o solzinho da tarde ou pelo interfone, falando sobre as novidades do dia. Novidades advindas dos noticiários ou do capítulo de alguma novela, claro. E assim, os dias foram passando.

Quanto mais tempo demorava para acabar o isolamento social, mais percebia que nossos papos saíram do trivial das TVs para a vida real, para uma profunda reflexão do autoconhecimento e da vida.

Mas por não saber como lidar pela falta de controle do porvir, vem a ansiedade. Ansiedade por cada dia, ansiedade pelo futuro, ansiedade ao sair e ao voltar para casa. Mesmo saindo raras vezes, apenas para programas essenciais como mercado ou farmácia, é sempre um ritual na volta ao lar.

Tira a roupa, tira a máscara, tira as luvas. Limpa os sapatos e deixa-os fora de casa. Lava as mãos, toma banho. Lava os vegetais, lava os sacos de arroz e feijão. Passa álcool gel nas embalagens de papel.

Nada pode ir para geladeira ou para a despensa sem antes ser lavado e bem higienizado.

Quando pensamos que em pleno 2020 estaríamos dando banho em sacos de feijão e em pacotes de biscoitos?

Sim, muitas dessas atitudes eu já tinha, mas agora, hábitos de higiene vêm carregados de uma pressão avassaladora.

E se esquecer de limpar um pedacinho da embalagem? E se um pedacinho da fruta passar despercebido na lavagem?

É! A cabeça já começa a ter pequenos surtos, dúvidas de estar ou não fazendo tudo como deve ser.

Um espirro não é mais um espirro. Agora ele vem carregado de apreensão. Melhor medir a temperatura para ter certeza que está tudo bem mesmo.

Assim vão passando os dias. Entre estou me sentindo bem, acho que estou me sentindo bem, será que estou bem, preciso continuar me sentindo bem.

Enquanto essas dúvidas e por que não, neuroses, vão surgindo, o mundo não parou de girar. As pessoas estão com os mesmos problemas, tristezas e as mesmas dúvidas que sempre tiveram. Mas agora tudo vem com o plus da pandemia.

Ansiosos têm mais motivos para cultivar a ansiedade. Depressivos têm mais motivos para se deprimir. Pessimistas têm mais motivos para pensar com negativismo. E mesmo isso não sendo saudável, é totalmente compreensível.

Tudo o que acontece atualmente é novo para todo mundo. Para todo o mundo.

Precisamos viver o presente, sem pensar muito no futuro, dizem os mais sábios.

Muito já se falava sobre vivermos o momento presente. Sem a nostalgia do passado e sem a ansiedade pelo futuro. E agora sim, temos mais do que nunca, pensar apenas no presente.
Podemos, mas não devemos fazer muito planos. Podemos e devemos nos concentrar no momento presente, no agora.

Isso que busco fazer. E busco influenciar minha amiga vizinha também.

Sim, tenho planos e objetivos e pretendo realizá-los, mas o principal agora é focar no presente.

O bom é acordar com ânimo de olhar para dentro. Mas o que é olhar pra dentro? Olhar pra dentro não é só meditar. Meditar é importante, mas é também se observar. Tirar o olhar do outro e olhar para nós.
Olhar para os nossos defeitos e qualidades. Luz e sombras. Certamente nem todos estão dispostos a fazer esse movimento para “dentro”.

O que gostamos e não gostamos o que fizemos até aqui por nós e pelo outro, o que podemos fazer para colaborar com a real evolução da humanidade, o que nos faz feliz, o que podemos melhorar em nós, o que perdoar, perdoar a si e aos outros, o que valorizar de verdade. Uma análise profunda se faz necessária. E essa hora chegou para quem sentir que deve se aprofundar no real sentido da vida.

Por muito tempo passamos pela vida. Vamos vivendo dia após dia, day after day. Sem nos damos conta de quem somos e do que nos faz verdadeiramente feliz. Nem vemos o tempo e a vida passar.

Agora a vida simplesmente passa por nós. Temos tempo de contar os dias, as horas, os segundos. Melhor então parar de contar os minutos e usar esse precioso tempo a nosso favor.

O que queríamos fazer e nunca tivemos tempo? O que adiamos por anos? O que queremos aprender e nunca conseguimos? O que for possível fazer em casa, que façamos. Então, amigo, essa é a hora. Quando tudo passar, e vai passar, estaremos mais fortes e mais sábios, se soubermos usar esse tempo em nosso benefício.

Além da importância de nos percebermos, vem a importância de perceber o outro.

Será que percebíamos que o outro, todos os outros, são nossos semelhantes? Claro, não somos iguais fisicamente, mas somos sim semelhantes nos sonhos, nas inseguranças, nos medos, na busca pelas alegrias da vida, respiramos, precisamos comer, beber, dormir, sentimos dor , choramos, sorrimos, brigamos, brincamos, precisamos do Sol e da chuva , do abraço, do beijo, percebemos que precisamos sim, das mesmas coisas e também, uns dos outros.

Precisamos do médico, do dentista, enfermeiro, do jornalista, do farmacêutico, do caminhoneiro que transporta cargas e abastece mercados e fábricas, precisamos dos agricultores que plantam, cultivam e colhem, precisamos de quem limpa as ruas, dos entregadores essenciais no momento atual, precisamos de quem limpa os hospitais, pre de quem faz máscaras, de quem produz medicamentos, dos professores se reinventando, dos profissionais de informática que proporcionam tantos contatos virtuais, dos trabalhadores dos supermercados, dos artistas que fazem lives, dos cantores que nos acalmam e animam com suas belas canções, dos lideres religiosos que nos ajudam a orar por dias melhores. Precisamos dos nossos vizinhos, que são a ajuda mais próxima, precisamos de todos.

Precisamos perceber que sozinhos não somos muita coisa. Precisamos uns dos outros.

Ao usar máscara nos protegemos, mas protegemos o outro também. Isso quer dizer que somos responsáveis não só por nós, mas pelos outros. E sempre foi assim.

Quem cultiva alimentos é responsável pela alimentação de vários seres. Quem limpa as ruas é responsável pela limpeza e beleza delas. Quem fabrica roupas está cuidando da vestimenta de vários semelhantes, quem constrói casas está oferecendo moradia e conforto a outras pessoas, quem preside um País está tendo a oportunidade de fazer o bem para muitos de uma só vez, e por ai vai. Todos nós de uma forma ou de outra, cuidamos uns dos outros. E não nos faltam oportunidades para fazer isso muitas vezes. Até mesmo rezando por alguém, estamos cuidando. E agora, mais sossegados, estamos tendo a oportunidade de perceber e valorizar isso.

Muito de nós tem vizinhos que não sabe o nome, que não sabe se pode ou não contar com alguém. No caso da minha vizinha, pude colaborar com seu bem-estar de alguma forma. E quem não o fez, pode sempre começar a buscar formas de fazê-lo.

Eu tive a oportunidade de conhecer mais alguns vizinhos, e mesmo com a distância, tive a chance de me preocupar mais com eles e ajudar de alguma forma, seja em gestos simples, como indo a farmácia ou ao mercado até conversar um pouco pelo interfone e oferecer um abraço virtual, com palavras amigas e de esperança. Muitos puderam fazer isso também. Reconfortar e ajudar o outro reconforta e ajuda mais ainda a nós mesmos.

Acompanhamos matérias que mostram como o ser humano é bom. As notícias, por vezes, são mais das dificuldades e do trágico do que do bom e belo, mas há sim, gente do bem no mundo. E como há. Ouso até dizer que a muito mais gente boa do que má. E são essas pessoas que devem aparecer na TV e nas mídias do mundo. Porque é com bons exemplos que nos inspiramos também a sermos melhores.

Vimos tanta gente saindo do conforto de seus lares para alimentar, acalentar e cuidar de pessoas.

Uns cuidam dos profissionais de saúde, outros de pessoas que se encontram nas ruas, , outros de pessoas que moram sozinhas, outros dos animais que precisam, outros saindo para trabalhar a manter serviços essenciais, outros costurando máscaras, outros nas linha de frente dos hospitais, e assim, cada um a seu modo, ajudando e cooperando para um mundo mais unido e melhor.

Até mesmo quem pode ficar em casa ou trabalhar home office ajuda, possibilitando menos aglomerações e consequentemente, colaborando na preservação da vida dos demais. Rotinas foram modificadas, novas rotinas foram criadas. Muitos perceberam que há outras formas de viver. Não precisamos correr sem parar para chegar, muitas vezes, a lugar nenhum.

O momento pede calma, pede tranquilidade, pede uma parada na agitação diária. Agitação do corpo e da mente. Stop. Precisamos, forçadamente, parar, respirar, e somente estar. Estar na presença e ai ficar, até tudo passar.

Outra questão muito importante é aproveitar um pouco desse tempo e pensarmos sobre os animais. Precisamos mesmo fazer deles alimento? Precisamos mesmo nos alimentar do sofrimento de outros seres?

O nosso Planeta possui tanta diversidade de alimentos, dos mais simples aos mais exóticos, saborosos e nutritivos, que mostram que não precisamos nos abastecer de dor, de sofrimento de seres que muitas vezes ficam isolados, enclausurados, apenas para oferecer suas carnes, seu leite, seu couro. Não, não precisamos disso.

Os animais sentem dor, sentem medo, sofrem, se alegram, choram, sentem fome, sede, frio e calor, como todos nós.
Se ficar provado que essa nova pandemia surgiu do consumo de determinado tipo de animal, seja ele qual for, não importa, pois o que importa é nos conscientizarmos que animais não são comida.

Para muitos de nós, isso é impensável. Culturalmente nascemos comendo carnes, vestindo couro e sabendo que empresas fazem testes em animais. Claro, cada um no seu tempo, pode ao menos pensar sobre isso.
Não é porque alguma coisa sempre foi de determinado jeito, que sempre terá que ser. Para isso estamos aqui. Para pensar, refletir e ajudar na evolução do nosso querido Planeta.

A informação é e sempre será a chave do progresso. Então vamos nos informar. Não podemos condenar qualquer País por fazer algo que muitos países fazem. Não seria justo.

Acostumamos-nos a viver sem questionar, seguindo o que sempre foi, mas estamos aqui também para questionar se o que sempre foi, ainda deve ser o que é.

Na verdade, não faz sentido amar uns animais e colaborar para o extermínio de outros. Todos sofrem igualmente. Uma espécie não sofre mais que a outra. Todas sentem igualmente, como nós.

Os animais ficam isolados de seus pares, de seus filhos, muitas vezes. Outros em cubículos até a hora do abate. Sentimos na pele que isso não é bom. A liberdade é boa e essencial a todos os seres.

Valeria ao menos essa reflexão durante esse tempo de parada pela pandemia?

E o que falar do consumismo desenfreado? Precisamos mesmo de celulares versão 1, 2, 3, 4, 20? Precisamos de 20 calças, 30 bolsas e 50 sapatos? No momento estou usando somente um par, que tem que ser higienizado e guardado fora de casa.

Nós, mulheres, gastamos tanto com cremes e maquiagens e agora só o que aparece são nossos olhos, que dizem, são o espelho da alma. Agora, sorrimos com eles e quase conseguimos nos fazer entender através deles. Simples assim.

Muitos só pensam no que farão quando os shoppings reabrirem ou no que estão deixando de comprar.
O nosso consumismo desenfreado precisa se calhar de um freio.

Nesse momento de parada obrigatória, vimos que não precisamos de tantas coisas, o tempo todo. Não temos nem tempo de usar tudo. Não conseguimos nem saber do que gostamos ou não, quando após uma compra, logo vem outra.

A maioria compra por compulsão. Por “status”, para ter o que o outro tem, para não ficar fora das novidades, para preencher um vazio que não sabemos de onde vem.

E agora, com lojas fechadas, precisamos forçadamente encaras as nossas verdades e perceber o que de fato importa.

Sem tantas aquisições, preciso olhar o que me faz bem de verdade, o que ainda tenho e nem usei, o que me faz sorrir, o que me dá prazer. E nessa análise, podemos reconhecer que o que importa é muitas vezes o simples, o menos, muitas vezes, pode ser mais.

Sim, parece que a vida é bem mais simples do que imagina nossa vã filosofia.

Hoje o abraço pode valer mais que a bolsa. Um beijo pode valer mais que um sapato. Um encontro com amigos pode valer mais que um celular.

Questão de perspectiva. E a quarentena está dando a oportunidade de mudar o foco da visão, mudar o nosso alcance de importância de tudo.

A maior parte das pessoas anda a fazer tudo no automático e muitos de nós já nem sente mais o sabor das refeições, a alegria num bom bate-papo, o relaxamento que uma boa música pode causar ou o que prazer de uma boa viagem de apenas, descanso.

Levamos trabalho para casa, trabalho para as férias, engolimos qualquer coisa ao almoço e esquecemos de beber água.

Agora, com o tempo passando lentamente, podemos, se quisermos, sentir o sabor de cada ação nossa, de cada gesto e de cada atitude.

Ao mesmo tempo, os pensamentos surgem aos montes e nem sempre são bons e positivos. Medo, revolta, desânimo, insegurança quanto ao futuro. Normal que venham e bom que possamos senti-los e deixá-los depois ir. Deixar que fiquem só faz com que cresçam até proporções desnecessárias.

Podemos sentir mais, deixar pensamentos e sentimentos chegarem e aprender a entendê-los e deixá-los ir. Tento fazer isso e tem me feito bem.

Muitos acham que estão no controle da vida. Mas quando algo assim ocorre, percebemos que não estamos no controle de nada.

Podemos ter controle sobre nossas ações e sobre o que sentimos e pensamos, mas não temos domínio sobre fatores externos, como o atual, que faz com que tenhamos que repensar a maneira de agir, de se relacionar e de encarar a vida.

A vida passa rápido, amigos. Há quem diga que estamos aqui somente de passagem. Viemos, aprendemos, evoluímos e seguimos.

Não temos certeza para onde seguiremos um dia, mas temos certeza que estamos aqui num momento único, em que se podemos tirar algo bom, é o autoconhecimento e a avaliação de como podemos ser melhores uns para os outros.

Ficamos mais sensíveis nesse momento. Questionamos o que estamos fazendo aqui, de onde viemos e para onde vamos.

Algumas vezes acordo com a sensação de ter dormido e quando acordar ver que tudo não passou de um sonho.

Mas acordo e vejo que não é apenas um sonho, nem um pesadelo daqueles de acordar suando e gritando.

É a realidade atual e precisamos conviver com ela da melhor maneira. E então, vamos criando mecanismos para ficar o melhor possível até que a cura chegue, até que tudo passe, até que tudo fique bem.

Mas e se não ficar? Logo nos vem a cabeça. Vai ficar. Pode demorar menos ou mais, mas irá passar. Tudo passa. Do bom ao mau. Passa e só ficamos com o que quisermos ficar. Guardamos a bagagem que quisermos guardar. E isso é um excelente e enriquecedor aprendizado.

O ser humano é feito de esperança. Dormimos e não sabemos se iremos acordar. Mas fechamos os olhos e nos entregamos ao sono, ao desconhecido, acreditando pura e simplesmente que iremos acordar no dia seguinte.

Faço assim agora. Faço minha parte e entrego o que desconheço a uma força maior, que tudo rege e que de tudo cuida.

Façamos essa entrega. A entrega do que não temos controle, ajuda no nosso emocional.

E o que dizer de tantas pessoas que direcionaram seu foco para ajudar pessoas que precisam mais?
Tantos exemplos de ajuda de todos os tipos. Pessoas costurando máscaras, outros costurando roupas para profissionais de saúde, tantos outros cozinhando para alimentar quem mais precisa.

Há aqueles que fazem compras para quem não pode sair e aqueles que chegam à porta de vizinhos ou mesmo desconhecidos até então, somente para saber se tudo corre bem.

Bem agem todos aqueles que um pouco que seja, encontram tempo e formas de ajudar um amigo, um vizinho, familiar ou desconhecido e formar uma corrente do bem.

No meu caso, busquei associações que já estavam ajudando famílias e colaborei. Liguei para vizinhos para saber de suas demandas por compras em mercados que eu pudesse ajudar a comprar.

Há várias formas de ajudar e ser ajudado. Quando me ligam só para saber se estou bem, ajuda a me sentir querida e aumenta a autoestima. Isso estimula a ligar para outra pessoa para da mesma forma, saber se está bem, e assim, devagar e sempre, vamos construindo uma corrente de empatia e de amor ao próximo.

A vizinha mais próxima que bate-papo comigo (lembram dela?) fala constantemente da importância de saber que tem alguém próximo que pode contar, que pode ver, mesmo de longe, na varanda, mas sente que a pessoa está próxima e se preocupa.

Claro que a família dela mantém contato e gostaria de estar perto, mas pegar um avião hoje em dia, seria um risco desnecessário.

O lado bom pode ser conhecer mais ainda vizinhos, que se tornam amigos e talvez isso não acontecesse se não fosse a pandemia.

O lado bom pode ser ter tempo para o autoconhecimento e para perceber valor no que realmente importa na vida.

O lado bom pode ser exercitarmos nossa empatia com as outras pessoas em todo o mundo.

Vamos dar uma de Pollyana e perceber que tudo tem um lado bom, mesmo que não fique evidente num primeiro momento.

Claro que não é nada bom estarmos no meio do furacão dessa Pandemia e torço para que tudo fique bem logo, no mundo inteiro, mas podemos mudar o foco para dentro de nós e para os outros que carecem de atenção. Assim pode ficar mais fácil e menos árduo passar por tudo isso.

Precisamos mesmo é sentir o Sol, a chuva e o vento. Precisamos mesmo é olhar mais para dentro. Precisamos mesmo olhar para quem está do nosso lado. Precisamos mesmo é viver cada dia como único.
Sim, podemos ficar tristes, sentir desânimo, sentir medo. Isso é normal, mas devemos e podemos não cultivar esses sentimentos, buscar pensar de forma positiva, percebendo a beleza da oportunidade que temos de viver na Terra.

E o que dizer do controle? Comprovamos mais ainda agora que não temos controle de nada. Não sabemos quando essa pandemia irá acabar ou quando haverá cura ou vacina, não sabemos quando iremos voltar a sair sem máscaras, a sair sem sentir medo uns dos outros. Não sabemos quando poderemos viajar, visitar familiares sem medo de dar e receber abraços. Não sabemos como estaremos nos sentindo amanhã ou daqui a um mês. A única coisa que podemos controlar é entender que não temos controle.

Nunca tivemos na verdade. Podemos fazer planos, sonhar, buscar, mas de uma hora para outra tudo pode e sempre pôde mudar. Podemos nos sentir alegres hoje e amanhã acordarmos tristes ou desanimados.
Então, o aprendizado que fica para mim é que o melhor a fazer é viver o agora, o momento presente. Sim, podemos e devemos cultivar nossos planos e sonhos e buscar conquistá-los, mas sem ansiedade.

O melhor é viver um dia de cada vez, observar mais os momentos simples, aproveitar mais a companhia de quem gostamos e gosta de nós, curtir o que nos deixa felizes e relaxados.

Podemos criar rotinas sem tanto estresse. Fazer mais exercícios, aprender a fazer o que antes não sabia ou achava que não tinha jeito. Podemos nos interiorizar mais e consumir menos.

Percebi mais ainda que gosto da quietude. Como é bom parar, aquietar, meditar, sentir a respiração, observar os pensamentos passando e deixá-los ir. Focar no silêncio, na ausência de perguntas e respostas. Somente ser e estar no presente, na presença.

Não há ainda cura, não há ainda tratamento e ninguém sabe ao certo o que esperar e quando tudo irá acabar.
Não vejo a hora de tudo acabar e voltar a ser como era, dizem alguns.

Voltar a ser como era, creio que não será fácil. Ficaremos ainda reticentes uns com os outros. Procuraremos usar máscaras em locais fechados e andaremos sempre com um alcoolzinho gel no bolso.

O medo que estamos sentindo de frequentar lojas e parques e de um contato mais próximo irá passar, mas não creio que seja num curto espaço de tempo.

Mas o que importa é que irá passar. E quando passar, podemos voltar um pouco melhores para nós, para os outros e para o mundo que nos acolhe.

Tanto aprendizado, tantas emoções, tantos encontros, encontros com nós mesmos!

Os papos com minha vizinha continuam. E acredito que continuarão mesmo quando a Pandemia passar. Claro, que não todos os dias, com tanta frequência, mas deve virar um costume, um bom costume.
Temos muito o que aprender com as experiências e vivências das outras pessoas que estão conosco nessa época, em nosso Planeta.

Que possamos aproveitar essa vivência para sermos melhores uns com os outros. É o que espero para mim e para todos nós.

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